quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Libertários de todo o Brasil, amadurecei-vos!

Às vezes tenho surpresas deveras agradáveis na internet.

Há mais de 3 anos, parei de acompnhar os artigos de Rodrigo Constantino, por ocasião da famosa (pelo menos para internautas e orkutianos interessados nessas pessoas) polêmica deste com Olavo de Carvalho, no início de 2007. Pela altura eu lia Prisioneiros da Liberdade, o primeiro livro de Constantino e o achei bastante fraco, abaixo das minhas expectativas. Foi aí que o excluí do meu rol de leituras virtuais confiáveis, exclusão essa que só se reforçou em outros debates bastante desagradáveis que tive com ele depois.

Pois bem, eis que, ontem, como que por acaso, calhou de eu me deparar com seu artigo Brincadeira de criança ou partido de verdade? . E qual não foi minha surpresa ao constatar que o artigo está ótimo! É um desabafo sobre os erros do incipiente movimento libertário brasileiro. Vamos a este fragmento:


O principal ponto de desilusão foi a postura de alguns membros. Não pude evitar a conclusão de que, para estes, o projeto não passa muito de um grito de revolta, de uma rebeldia juvenil, até mesmo de uma brincadeira de criança. Se o objetivo é criar um partido sério que poderá fazer alguma diferença num futuro próximo, então a postura dessas pessoas vai à contramão da meta almejada. O simplismo na defesa de certos pontos extremamente radicais é gritante, a arrogância com que temas complexos são tratados é assustadora, e a intolerância com discordâncias é dogmática.

O modus operandi deles funciona mais ou menos assim: se você não é um anarco-capitalista, então ou não leu os livros certos, ou não entendeu o que leu, ou então entendeu, mas odeia a liberdade. Em suma, ou você é ignorante ou desonesto e autoritário. E o mais espantoso de tudo é que tal postura se dá entre libertários! Basta discordar de uma vírgula, e você logo passa a ser um “socialista”. Fica a nítida impressão de que essas pessoas, na maioria dos casos jovens demais, querem apenas embarcar numa cruzada moral, onde se colocam como os únicos defensores verdadeiros da liberdade. Não há respeito genuíno por aqueles que conhecem os principais argumentos, mas discordam de alguns deles. Esta postura é típica de seitas fechadas e fanáticas.



Aí ele faz uma referência ao que viu no Liber, um partido (ou antipartido, whatever) libertário fundado recentemente, e que se anuncia como a promessa política do libertarianismo brasileiro. Eu não vi os debates que Constantino, nem acompanho esse pessoal para poder dizer que o que Constantino diz é verídico, mas confio em seu depoimento por já ter presenciado factos bastante semelhantes entre libertários. Para resumir a conversa (que poderia consumir ainda muito espaço), muitos libertários fazem uma concepção totalmente abstracta da liberdade, da política e da economia e, em seguida, não admitem que a realidade não possa ser exatamente assim. Não aceitam menos do que suas utopias, bem como mostram bem pouco interesse em saber como as coisas funcionam ou funcionariam na realidade. Falta-lhes senso prático. E quando ouvem objecções, já chamam o interlocutor de "socialista", "autoritário", "inimigo da liberdade" - como se a liberdade tivesse nascido com eles ou fosse impossível sem eles.


Apenas a titulo de ilustração, alguns exemplos merecem ser destacados, para mostrar até onde pode ir a “tirania da visão” quando falta o mínimo de bom senso. Se há estado, então há escravidão. A liberdade significa ausência de estado. Logo, os suíços são apenas escravos, e os somalis vivem livremente, pois o estado foi abolido. Se o governo americano tem bombas atômicas, então por que a teocracia iraniana não pode ter também? O PT e o PSDB são ambos socialistas, logo, não há diferença alguma entre ambos, e não passa de “paranóia de direita” falar em golpismo autoritário dos petistas. O estado é ilegítimo, logo, atacar um policial que tenta evitar que você ande armado nas ruas é legítima defesa. Toda troca voluntária deve ser aplaudida (não apenas tolerada), logo, o vendedor de crack é praticamente um herói. Tudo que vem do estado é fruto do roubo, logo, o calote da dívida pública seria uma medida louvável. E o grau de bizarrices só aumenta.

Constantino ilustrou bem o grau de alienação da realidade de vários libertários patrícios. Posso afirmar que já vi as tais bizarrices citadas, e por isso dou fé deste depoimento. Cabe registrar que o prórpio Constantino já foi autor de bizarrices semelhantes noutras ocasiões. Estaria o economista a ser contraditório? Talvez, mas aposto antes que ele esteja melhorando. Que assim seja!

Que os libertários brasileiros leiam e meditem sobre este artigo. Será uma ótima oportunidade para amadurecerem e se corrigirem. Se o fizerem, só terão a ganhar.

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