domingo, 14 de novembro de 2010

Mortificação, ignorância e preconceito



É notícia velha eu sei, mas o assunto é perene.

Há meses, vi no G1 esse artigo sobre a srta. Sarah Cassidy, e seu uso diário de “arame farpado” para controlar desejos sexuais. Nunca dantes ouvi falar dessa distinta mulher.

Pelo teor do texto, suspeitei de uma abordagem enviesada e resolvi pesquisar um pouco mais. Como já suspeitava, a história era diferente: Cassidy e uma numerária inglesa do Opus Dei, e que por isso usa todos os dias um antigo instrumento de mortificação chamado cilício.

Ora, cilício não é arame farpado. É uma espécie de cinto de ferro com várias pontas viradas para o lado de dentro. Existem cilícios para os braços, o tronco e as pernas. É este último que é usado pela srta. Sarah Cassidy e pelos numerários do Opus Dei em geral.

Bom, pergunto eu: que mal há nisso? Que mal há no facto de uma mulher católica devota fazer uso de uma antiga prática aprovada pela Igreja e que, segundo alguns bem mais versados na matéria do que o jornalista do G1, traz tantos benefícios espirituais?

A reportagem do Daily Mail sobre o caso foi mais honesta, mas também não deixou de ter lá seus preconceitos anticatólicos que, suspeito, sejam comuns no Reino Unido(nem falo de várias opiniões deixados na caixa de comentários por vários leitores). O principal, pelo menos que pude perceber, era um pensamento assim: “que desperdício de vida! Não é esrranho que mulheres educadas e bem sucedidas façam isso e acreditem nessas coisas?”. Bom, isso é bizarro para a mentalidade materialista e hedonista que ocupa largos espaços no mundo ocidental moderno, sendo a Grã-Bretanha um dos casos mais pronunciados. Para ela, o sacrifício e mesmo o desconforto são sempre ruins, males em si mesmo, e que se tornam ainda mais estranhos quando são ofertados a Deus. Sacrificar-se por Deus, mesmo que seja um pequeno sacrifício, é esquisito. Ceder aos próprios instintos, caprichos e impulsos, no matter what, isso sim é coisa de gente normal. Fossem a srta. Sarah Cassidy e suas colegas numerárias de seu centro feminino londrino lésbicas, abortistas e promotoras do “amor livre”, duvido muito se causaria tamanha estranheza.

No mais, ao jornalista do G1: não se preocupe por ela ser diretora de uma escola primária. Suas crenças e praticas não a desabilitam para a função que exerce. É bem possível até que ela a faça com qualidade exemplar.

2 comentários:

Marco Aurélio Antunes disse...

Qual é o benefício espiritual que traz essa prática? Há razão para buscar benefícios espirituais que exigem sacrifício?

Fábio V. Barreto disse...

1)Marco Aurélio, as pessoas que vencem o pavor contemporâneo pelo sacrifício e aprendem a vencer-se na mortificação do cilício entram em união com o Senhor; descobrem, ao superar progressivamente a tibieza e o egoísmo, em si uma maior capacidade de amar a Deus e aos outros, além de disciplinarem melhor seus pensamentos, palavras e actos.

2)O espírito merece mais cuidados do que o corpo. Logo, se para alcançarmos um benefício espiritual tivermos de fazer sacrifícios corporais, por que não? Se for feito como se deve, ou seja, sob a orientação de um diretor espiritual, só pode dar bons frutos.

Sobre a mortificação (que é algo muito mais amplo do que o uso do cilício), veja o que diz o Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 2015.