quinta-feira, 22 de julho de 2010

Internet, discussões, o tempo e a obra

"Evita as longas discussões, sobretudo com pessoas dispersas, que juntam argumentos sobre argumentos, sem ordem e sem disciplina, misturando juízos apenas de gosto com algumas pseudo-idéias mal-formadas e mal-assimiladas. Evita essas discussões que não são em nada benéficas. Se não for possível conduzir o colóquio com alguém em boa ordem, segundo boa lógica, cuidadosa e organizada, é preferível que te cales. Sempre sê disciplinado no trabalho mental. Essa é a regra importante, e nunca ceder às vagabundagens do pensamento em conversas diluídas, dispersas, em que se fala de tudo e não se fala de nada.” Mário Ferreira dos Santos (1903-1968), filósofo brasileiro.

Já falei, num dos primeiros posts deste blog, como o tempo é uma preocupação constante minha. Cada vez mais me convenço de que ele é muito precioso e deve ser administrado com muita sabedoria e que os planos devem ser levados a termo com seriedade, se se tem como projecto de vida a santidade e a vida intelectual fecunda e responsável, como é o meu caso, e não um mero "vai levando" da existência terrestre.

Tomo as palavras de Mário Ferreira dos Santos como um mote para retornar ao tema no que diz respeito à internet e aos debates virtuais, tema este no qual tenho pensado muito ultimamente.

Devo dizer, à partida, que considero a internet uma fonte maravilhosa de conhecimento de de interacção com outras pessoas mais distantes com interesses comuns aos meus. Por meio dela conheci diversos sites bastante instrutivos, consegui excelentes livros e conheci ótimas pessoas, muitas das quais mantenho contacto tanto real, como virtual. Sem exagero, posso dizer que muito do que sei é devido à rede mundial de computadores.

Entretanto, o meio virtual é um ambiente bastante propício para pessoas de má-fé posarem como que sendo o que não são, desfilares seus egos, seu orgulho como conhecimento, sabedoria e cultura; para gente despreparada conduzir discussões intermináveis e de baixo nível; para os imaturos martelarem a rigidez de suas idéias rasas num ritmo incessante; para que agressoes verbais pululem às por todo lado. É uma faca de 2 gumes, e eu mesmo já me feri nessa faca algumas vezes.

Já me feri, mas também feri outros, quase sempre sem a menor necessidade. Não pense o leitor que já não cometi minhas faltas em discussões virtuais, agredindo quem de mim discordava ou falando em tom categórico e professoral assuntos sobre os quais eu tinha bem poucos subsídios sobre os quais me apoiar. Isso parece ser difícil de evitar, já que nesse tipo de colóquio os participantes tendem a se comportar como se estivessem interagindo apenas com uma máquina, como se por trás dela não estivesse um seu semelhante. Como se a única pessoa existente no caso fosse aquele quem fala,e os participantes de comunidades virtuais, meros programas informáticos. Não é difícil ver que, assim, pecar contra a caridade torna-se uma moeda corrente.

Além disso, vale falar que muitos dos debates "internéticos" são cultural e intelectualmente improdutivos. Não poucos usam da enorme liberdade da internet apenas para posar de doutos, quando não o são; para defenderem suas posições à ferro e fogo sem terem condições para tal; para "botar pra quebrar" para aparecerem, já que não se destacam como bons debatedores. Gente assim já derrubou muitos bons fóruns virtuais. É preciso selecionar muito bem as comunidades a participar e os interlocutores aos quais se dirigir para qe se percebam bons frutos.

Falo isso mais focado no famoso Orkut, mas vale basicamente para todos os ambientes virtuais onde as pessoas possam se reuinir para falar sobre algo. Pois bem: vendo que isso pode ser bastante prejudicial à alma (estímulo à vaidade, à maledicência, à mentira) e ao intelecto (perda de tempo com discussões inúteis, diminuição do tempo de estudo), estou cada vez menos interessado nesse gênero de debates. Participo cada vez menos e seleciono cada vez mais os interlocutores e os fóruns. Não pode ser de outra forma, se se quer honrar a alma, a vida intelectual e os diversos afazeres da vida cotidiana.

Olavo de Carvalho já denunciava esse vício de debater dos brasileiros. Segundo ele, nossos patrícios têm fascínios por debates, ao mesmo tempo que têm bem menos interesse em conhecer e estudar. Pois bem: para mim, a tensão entre debates virtuais e o crescimento espiritual e intelectual chegou a um ponto crítico. É preciso deixar essas discussões um tanto de lado em nome deste crescimento que vos falo. O reino da doxa deve ceder ante o reino da sophia. Não pode ser de outra forma. Que assim seja e que Deus me ajude.

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