quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sobre concursos públicos e concurseiros

Há entre algumas pessoas no Brasil, especialmente entre que simpatizantes do pensamento político liberal, uma tendência a menosprezar o funcionalismo público e, por tabela, os concurseiros, tachando-os de preguiçosos, pouco competentes e naturalmnte menos capacitados do que os funcionários da iniciativa privada.

Trata-se de um erro crasso, estereótipo de uma figura que até que podia ter alguma substancialidade tempos atrás, mas que já passou. Além de que isso é, na melhor ds hipóteses, um liberalismo caricaturizado que revela ignorância do liberal que o sustenta (lembremos, por exemplo de que Adam Smith era um burocrata. Isso para não falar de Roberto Campos, J. O. Meira Penna e J. Guilherme Merquior), os factos mostram o seguinte:

1)A idéia de que a iniciativa privada valoriza a personalidade e a paixão do empregado enquanto que o serviço público anula o indivíduo, transformando em mero cumpridor de ordens é estereotipada e falsa. Nem sempre empresários gostam de funcionários com iniciativa e personalidade (conheço pessoalmente uns assim), bem como, sem paixão, como se manter e crescer trabalhando no Serviço Diplomático, na Magistratura, ou na Polícia Federal, por exemplo?

2)Há muito que a Administração Pública vem acolhendo métodos da iniciativa privada para melhorar sua eficiência, como exigir qualificação contínua de seus quadros e estabelecer metas de produtividade (o órgão em que um primo meu trabalha, por exemplo, faz isso). Seguindo por essa via, a tendência é a de que a imagem da Administração Pública como o destino dos preguiçosos desapareça, por falta de correspondência com a realidade;

3)Tampouco faz sentido dizer que “para ser funcionário público, basta fazer uma provinha”. Quem quer que tenha contato com concurseiros sabe o quanto é preciso estudar para passar em algum certame, especialmente os mais duros, como o do IRBr para a carreira diplomática, das magistraturas ou para Auditor Fiscal da Receita Federal. Quem diz aquilo por acaso já tentou passar num concurso desses, ainda que fosse só para ter alguma ciência do que diz?

4)Falam também em preparo. Isso, obviamente, depende do cargo aspirado. A maioria das pessoas que conheço planeja uma carreira na área jurídica, ou na Receita Federal, Serviço Diplomático ou Magistério Superior. Alguém, dentre os críticos, tem alguma idéia do nível necessário para ser aprovado no concurso para qualquer dessas carreiras? Os certames para Auditor da Receita Federal, por exemplo, nunca conseguem preencher as vagas ofertadas, tão alto é o nível do teste. Para o candidato à diplomata, por exemplo, é preciso, logo no começo, saber inglês fluentemente, ter ótima proficiência em Francês e Espanhol, disponibilidade para aprender outros idiomas, além de conhecimento sólido de Economia, Direito, Ciência Política, Relações Internacionais, etc. Abundam profissionais assim na iniciativa privada?

5)Há também quem ache que funcionários públicos são “pífios”. Como? Juízes, promotores de justiça, diplomatas, professores de universidades estaduais e federais, militares e outros são “pífios2 pelo simples facto de serem funcionários públicos? Cadê a base concreta disso?

6)Tempos atrás se dizia que só quem não realizava sua vocação trabalhava no serviço público. Ué, é tão estranho assim conceber que alguém possa ter vocação para juiz, desembargador, promotor de justiça, militar, diplomata, etc?

7)Como ficam aqueles que se sentem vocacionados a profissões EXCLUSIVAS do serviço público? O que dizer a quem quer ser juiz, policial, promotor público ou diplomata? Que procurem seus arremedos (grosseiros) na iniciativa privada?

8)Os que dizem “não façam concursos públicos! Trabalhem na iniciativa privada” já pensaram, por um minuto sequer, que quem seguir seu conselho restringirá artificialmente suas chances de inserção profissional? Ou pretendem ajudar doutra forma quem tenha dificuldade de arrumar um emprego por põr em prática suas opiniões profissionais?

9)Caso especial do ponto anterior: como ficam aqueles que se prepararam em cursos com pequeno mercado de trabalho (Filosofia, Sociologia, Matemática, etc)? Devem diminuir ainda mais suas pequenas chances de ober um emprego porque uns acham que, trabalhando para o Estado, não verão valorizadas sua “paixão e personalidade”?

10)Finalmente, a questão financeira. Como acadêmico de Direito, vejo que a advocacia, para os iniciantes, não costuma ser uma atividade muito rentável (não é raro encontrar escritórios que oferecem um salário entre 800 e 1000 reais para um advogado em começo de carreira). Isso para quem se dispõe a morrer de trabalhar, de manhã até a noite (alguns escritórios não querem que seus advogados façam certos serviços em horário laboral, como a petição inicial e pedem que sejam feitos pelo advogado-empregado à noite, em casa, quando ele deveria estar descansando e convivendo com os seus). Por outro lado, há vários concursos por aí com salários de 5,7 ou 12 mil reais para nível superior, muitos deles exigindo graduação em Direito. O que dizer para tentar convencer estes acadêmicos de Direito e os recém-formados para não fazer concursos e preferirem a 1ª opção? “Ah, concurso é só decoreba”?

Por isso, não caiam nas falácias propaladas por pessoas assim, como Luiz Carlos Prates. Façam as melhores opções possíveis para a sua inserção profissional, seja no serviço público ou na iniciativa privada. Desde que seja por uma senda honesta, tudo é válido.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Vita Nuova, Michelle!

Há 19 dias a minha vida mudou bastante. De fato, ela já vinha mudando há uns 9 meses, devagarinho, devagarinho. Eu vinha providenciando o necessário, ela também, bem como nossas famílias e alguns de nossos amigos. Sabíamos que iríamos precisar de muita ajuda, toda a ajuda possível. À medida que o tempo passava a ansiedade aumentava, as peguntas ficaram mais frequentese o peso da responsabilidade que vinha e fazia mais presente.

Foi na madrugada de 18 de Novembro passado. Por volta de 1 da manhã ela me ligou. Seria ainda naquele dia. Falara antes com o médico e ele disse que poderíamos esperar até o amanhecer, para irmos ter com ele no hospital.

Assim foi feito. Depois de termos nos perdido no caminho, chegamos ao local. Fizemos todos os procedimentos e, devido às circunstâncias, foi escolhida como solução a cirurgia. Acompanhei tudo, foi mais simples e mais fácil do que pensei.

Às 09:40 da manhã, Miguel Barreto, meu filho, nasceu. Todo roxo, como é de praxe, logo começou a adquirir “cor de gente”. Grande (51 cm) e pesado (3,495 kg), é também muito saudável. Muito lindo também, apesar de ser quase um clone do pai. Tal como sua mãe, dormiu no hospital e saiu no dia seguinte.

Foi um dia de grandes alegrias, dia de sol banhado de sol. Dia de “parabéns!”, “felicidades!” e outras demonstrações de carinho. Mas também, é claro, dia de burocracias. Tudo bem, isso não foi capaz de estragar-me o dia.

Ele mora com a mãe. Particamente tdos os dias vou visitá-los e ajudo em algumas coisas (banho, troca de fraldas, comprar coisas, pôr para arrotar, essas coisas). Hoje estou meio adoentado e pouco posso fazer. Os dois vão bem, apesar das dificuldades.

Eis uma etapa nova em minha vida. Agora sou pai e responsável por uma criança, alma que gentilmente me foi confiada por Deus para que cuide e guarde, para que seja feliz na Terra e depois possa gozar da felicidade eterna no Céu. Ainda não experimentei todas as mudanças que isso traz, mas as compartilharei aqui, na medida do possível.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Fragmentos da Biblioteca Ideal - Literatura II

Faz tempo que não posto nada sobre a minha biblioteca ideal. Bem, agora dou continuidade à sua parte literária, iniciada aqui. Listarei cá apenas obras da literatura portuguesa:

1) Camilo Castelo Branco: Amor de Perdição, Amor de Salvação, A Queda dum Anjo, Anátema, Doze Casamentos Felizes, A Mulher Fatal, A Filha do Arcediago, A Neta do Arcebispo, Onde está a Felicidade?, Um Homem de Brios, O Que Fazem as Mulheres, Coração, Cabeça e Estômago, O Regicida, A Filha do Regicida, Novelas do Minho, Eusébio Macário, A Corja, A Brasileira de Prazins,Abençoadas Lágrimas, Noites de Lamego, Memórias do Cárcere,Cancioneiro Alegre de Poetas Portugueses e Brasileiros
2) Eça de Queirós: Contos, O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, O Mandarim, A relíquia, Os Maias, A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras, A Correspondência de Fradique Mendes, A Capital, Alves e Cia., A Capital, Cartas de Inglaterra, Ecos de Paris, O Egipto, Crônicas de Londres, Cartas de Lisboa, Correspondência
3) Aquilino Ribeiro: Todos os romances, além dos livros de contos Casa do Escorpião, Jardim das Tormentas e sua autobiografia Um Escritor Confessa-se
4) Miguel Torga: Portugal, Rua, Bichos, Contos da Montanha, Novos Contos da Montanha, O Senhor Ventura, Vindima, Diário Completo, Fogo Preso, Odes, O Paraíso, A Criação do Mundo (completo)
5) Branquinho da Fonseca: O Barão
6) José Cardoso Pires: O Delfim, Balada da Praia dos Cães
7) Vitorino Nemésio: Mau Tempo no Canal
8) Sophia M. B. Andersen: Antologia Poética
9) Fernando Pessoa : Opera Omnia
10) Mário de Sá-Carneiro: Opera Omnia

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A Ucrânia e a União Eurasiana

No blog Notícias da Ucrânia, leio isso hoje.

Yushchenko era categoricamente contra as exclusões. Agora elas existirão. Mais precisamente - já existem: não haverá livre comércio com petróleo, gás, açúcar e álcool. Por enquanto são quatro produtos já conhecidos. Provavelmente haverá muito mais. Podemos supor que a lista de isenções incluirá armas e tubulações. (A Rússia não vai abolir as taxas dos produtos que ela possui e que são importantes e muito necessários aos outros países. Ela vai impor as suas necessidades, mas não permitirá que os outros o façam. Bielorrússia já vive esta situação, mas parece que ainda não aprendeu - O.K.).

Desta maneira, denominar o comércio como livre é complicado. Se o gás e o petróleo não forem incluídos no livre comércio, então falar sobre a liberdade, definitivamente, não vale a pena.

As empresas ukrainianas que consomem o gás russo, mesmo com o imposto de exportação zero, não se beneficiarão com a União Euroasiática. Os produtos russos serão mais baratos porque lá as fábricas consomem o seu gás mais barato.


Eu achava que esse negócio de eurasianismo era mais uma maluquice de uns ideólogos e políticos russos e de brasileiros metidos a "tradicionalistas" do tipo perenialista e admiradores do autoritarismo, mas parece que me enganei. Vou dar mais atenção ao caso, pois ele se mostra como uma força que promete ter grande influência geopolítica num futuro não muito distante.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Opus Dei em Fortaleza

Em Março de 2012, a Prelazia do Opus Dei inaugurará o seu primeiro centro em Fortaleza. Será também o primeiro centro da Obra no Nordeste. Um grande ganho aos católicos fortalezenses,sem dúvida. Como admirador do Obra, fico feliz em ver uma entidade católica tão séria e respeitável em atividade permanente em minha cidade. Que ela prospere bastante por cá!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Minha volta II

Fui a Portugal... e já voltei! É, foi uma viagem propositadamente curta, com o intuido de pôr um ponto final em certas coisas, mas foram bem menos do que eu desejava e necessitava os pontos finais postos. Enfim, calhou assim, mas não devo me queixar tanto, uma vez que outras oportunidades se me abriram. Bem, toca agora aproveitá-las e fazer o meu melhor, não?

Não postei nada durante minha estadia em Coimbra por falta de disposição, principalmente, mas também devido à correria que foi a minha vida. Eu já sabia que assim seria, por isso nem me surpreendi. Aliás, eu pensava antes que a agitação seria ainda maior.

Cheguei em Fortaleza no início da noite do dia 06 de Outubro, e já na manhã da passada Quarta-feira tive uma viagem para fazer. Salvador. Fui à capital baiana para o casamento de um primo com uma moça de lá. Vão morar em Londres brevemente. Aproveitei e passeei um pouco da cidade (que eu não conhecia, como aliás não conheço boa parte do Brasil - vergonha, eu sei).Cerimônia do casamento,praia, acarajés, Elevador Lacerda, Pelourinho, etc. Disso foram feitos meus dias até domingo. Mas já estou de volta à luta!

domingo, 25 de setembro de 2011

Minha volta

Volto a postar!

Minha volta repentina à Coimbra foi interessante, inusitada. Estava tudo combinado para eu viajar no dia 10 deste mês, pelo fim da tarde. Um almoço de despedida na casa de uma tia estava a ser preparado para mim. E eu me preparava para isso.

Eis que, na quinta-feira, dia 8, no começo da noite, meu agente de viagem liga para me avisar que um vôo da TAP fora cancelado e que eu não poderia viajar naquele dia. Corremos, eu e meu pai, para a agência para ver o que poderíamos fazer. Tínhamos um problema de deadline, pois eu tinha um exame na segunda-feira, dia 12 e outro na quinta-feira, dia 15.

Depois de muito vasculhar e ponderar, vimos que a melhor (ou menos pior) saída seria um embarque às 5 da matina do dia 09, com escala em Natal e com Paris como destino final (sabe-se lá porquê, o vôo Fortaleza-Paris estava mais barato do que Fortaleza-Lisboa). Foi a corrida para arrumar as malas, trocar o máximo de dinheiro possível e avisar quem pudesse (minha namorada não gostou nada da história, como podem imaginar).

Mas deu certo. Foi duro dormir tarde e acordar lá pelas 4 da manhã para pegar um avião para Natal. Na capital potiguar, horas de espera, mas foi tranquilo. Tentei estudar durante o vôo, mas muito pouco resultou. Sem dúvida alguma, as melhores coisas do avião foram o sono que pude em parte recuperar e a oportunidade de assistir Encontrarás Dragões , o filme que conta uma parte da vida de São Josemaría Escrivá e que eu muito queria assistir.

Cheguei à Lisboa às 23 horas. Já sabia que, a essa hora, não havia autocarros para Coimbra. Já havia reservado um quarto num hotel na cdade, só para passar a noite. Pequeno, simples, mas um bom hotel. Resolveu plenamente o meu problema.

No dia seguinte, depois do pequeno almoço, rumo à Cidade dos Doutores! Nenhuma novidade aí. Minha senhoria estava à minha espera, estava preocupada porque demorei a voltar, e me havia preparado um bacalhau com natas (amo!). Depois dum bom almoço, desarrumar as malas e fazer umas provisões, pois preciso de comida na casa. O resto do dia foi a tentar pôr a vida em ordem, pois tinha exame dois dias depois.

Bem, até onde posso me recordar, é isso. Até o próximo post!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Autoentrevista (I)


Partindo do facto de que não somente a plena prática da Filosofia exige preliminarmente um alto grau de autoconhecimento, mas sim toda a vida intelectual que um homem pode ter, inicio aqui uma série de post que consistem exatamente em auxiliar-me nesse exercício do autoconhecimento, através de entrevistas que faço a mim mesmo, abordando diversos aspectos que me dispertam a atenção e me são importantes. A frequência com que serão postados aqui essas “autoentrevistas” não está determinada, só posso garantir que serão feitas na medida do possível. Começarei por perguntas bastante gerais:


1)Como foi o ambiente em que você cresceu? Isto é, gostaria de saber mais sobre a sua infância

Bom, pode soar bastante simplista, mas eu posso dizer que cresci numa boa família, numa boa casa. Não porque fôssemos ricos – nunca fomos- mas porque o ambiente familiar sempre foi muito agradável e caloroso. Minha mãe sempre pensou no melhor para mim e para a minha irmã, tal como fazia também o meu pai. Ambos trabalharam duro para nos dar um bom nível de vida (estudamos em bons colégios, tínhamos bons brinquedos e roupas e nunca faltou boa comida em casa), mas tudo demandou sacrifícios, às vezes bastante altos. Mais do que isso, só consigo lembrar da minha infância como uma época em que havia muito amor em minha casa assim como em toda a família. Não que nunca houvessem desentendimentos e problemas, é claro que havia, mas nada que ferisse gravemente essa convivência sadia e harmoniosa (acho, aliás, que a única família na qual não houve brigas foi a Sagrada Família).

Vivíamos no terceiro andar de um edifício da Rua Frei Mansueto, em Fortaleza (nos mudamos em 2002). Pelo que me lembro, a vizinhança era boa, tinha alguns amigos entre os meninos do prédio, com os quais brincava bastante. Aliás, as memórias de minha infância são repletas de brincadeiras e felicidade. Foi uma época muito boa, muito construtiva. Pena que perdi contato com todos daquele tempo.

Me dava muito bem com meus primos quando criança e ainda sou bastante chegado a alguns deles. Novamente, ao falar disso, lembro-me das ótimas brincadeiras que tivemos, especialmente nas férias: dormíamos uns na casa dos outros brincando de jogos de tabuleiro, “carimba” (jogo com bola que os sudestinos chamam de “queimado”), bonecos de super-heróis da TV e dos quadrinhos, desenhos animados e séries televisivas infanto-juvenis, etc. Acho que essas brincadeiras, longe de representarem apenas momentos lúdicos, foram importantes para a minha formação e desenvolvimento.


2)E a escola e as amizades?

Tive alguns amigos na escola, não muitos. Acontece que sou um tanto tímido e introspectivo e isso não facilita a conquista de muitas amizades (lembro-me até que, aos 7 ou 8 anos minha mãe me levou para umas sessões com uma psicóloga para tratar dessa minha dificuldade em me relacionar com as outras crianças na escola). Se eu fosse mais expansivo, como a minha irmã, talvez teria hoje uma coleção de amigos. Também perdi contacto com eles. Minha vida, de facto, é feita de uma sucessão de rupturas (risos). Mas não perco de vista o que acontece com o que “se rompeu”.


3)Desde o fim da infância que você demonstra um interesse mais pronunciado pelas Humanidades. Como foi isso?

Sim, desde essa época que eu me interesso pelas Ciências Humanas. Começou com a História, que é como que a primeira das Humanidades que as crianças estudam. Sempre me fascinaram os relatos históricos e eu achava incrível recriar em minha mente aqueles factos narrados nos livros. Obviamente, por esta época, o meu interesse por História não era exatamente científico (não tinha nada desse negócio de metodologias, bibliografia indispensavel, clássicos, etc). Ele era como que uma extensão do meu gosto por filmes, seriados e desenhos animados. Com o passar dos anos e o meu amadurecimento é que isso mudou, passando a História a ser algo como um irmão da Política até ser algo como uma conhecimento de necessidade existencial. Mas até hoje não se como se pode estudar História sem tentar reviver aquelas narrativas na própria mente e na própria alma (salvo engano, Benedetto Croce disse algo nesse sentido).

No rastro da História veio a Geografia, que é meio hibrida, já que junda aspectos das Humanidades com as Ciências Naturais. Era uma matéria da qual eu gostava bastante na escola, especialmente da parte humana. Confesso, porém, que desde que ingressei na Universidade não li mais nada sobre geografia.

A Filosofia veio do estudo mais demorado da História. Eu, muito interessado pela Grécia Antiga, pela Idade Média, pelas civilizações orientais (sempre tive interesse enorme pela China e pelo Japão) e pelos séculos XVIII, XIX e XX, não podia permanecer indiferente ao que os filósofos dessas épocas diziam e pensavam, já que era parte importante da História e que, muitas vezes, transcendia a sua época, fazendo discípulos e continuadores em outras épocas e lugares. Aí minha atração pela matéria foi se acentuando, até que conheci o filósofo Olavo de Carvalho ( já com mais ou menos 18 anos) e a filosofia passou a ter maior importância na minha vida.

A Sociologia começou, comigo, como irmã da História e da Ciência Política, mas anda não dei a devida atenção a ela. Já atentei mais para a Ciência Política, que pretendo estudar a fundo. Já cogitei em fazer vestibular para Sociologia em 1999, mas acabei trocando, meses depois, pelo Direito, onde estou até hoje.

O Direito é o “caçula” das Humanidades, mas foi o scolhido como curso superior. Eu diria que tenho uma relação complexa com ele, alternando entre o amor e o ódio, mas desde já afianço que ele não deixará, jamais, de fazer parte da minha vida, seja qual for o rumo que ela tome. Ainda pretendo escrever um texto sobre isso noutra hora.


4)Sei que você teve também interesse grande em ciências naturais. O que aconteceu? Como está isso hoje?

Sim! É que, quando criança, eu me interessava muito por dinossauros. Sabia os nomes de muitos deles, o que comiam, em que época viveram, etc. Esse interesse me levou a pesquisar sobre a história natural do mundo, desde as eras mais primárias até à época actual. Era um fã de Darwin, embora nunca tenha lido A Origem das Espécies (até hoje ainda não li, aliás). Quando criança, aliás, falava seriamente em seguir a carreira de paleontólogo (risos), pensava em fazer faculdade de Biologia e talvez até um pouco de Química, essas coisas. Mas foi um interesse passageiro, que não tem mais grande influêencia sobre mim hoje.


5)E as Exatas?

Nunca fui afim das Exatas. Não que não veja lógica na Matemática ou na Física. Acontece que, como qualquer criança, a primeira ciência exata que a escola me apresentou foi a matemática. E o que se passa é que, quando eu estudava aquilo, eu não via correspondência alguma na realidade, tudo aquilo era para mim uma abstração total, bem diferente do que o que eu via quando estudava História ou lia um livro de ficção. Essa antipatia acabou passando sem dificuldade para a Física, embora eu gostasse mais dela do que de Matemática, justamente porque eu conseguia ver alguma coisa real na Física, e para a Química, que demanda um bom conhecimento matemático também. Confesso que, semanas após os exames vestibulares, já tinha esquecido boa parte da minha educação em Exatas e actualmente não sinto grande falta dela.

domingo, 28 de agosto de 2011

Fragmentos da Biblioteca Ideal - Direito II

Continuando meus posts sobre a biblioteca ideal, tratarei hoje da segunda parte da minha desejada biblioteca jurídica. Se na primeira parte listei alguns diplomas legais que considero importantes, aqui colocarei alguns dos livros referentes à História do Direito, ao Direito Romano, à Teoria Geral do Direito, à Filosofia do Direito e à Sociologia Jurídica que pretendo ler e estudar com atenção. Avanço para já que a lista aqui é mínima, pois esses ramos abrangem a maior parte do meu interesse na seara do Direito:

1)Introdução Histórica ao Direito – John Gilissen
2)História do Direito Português – M. J. de Almeida Costa
3)Manual de Histria del Derecho Español – Francisco Tomás y Valiente
4)O Direito Romano – Michel Villey
5)Historia del Derecho Romano – V. Arangio-Ruiz
6)Breviário de Direito Romano – António Santos Justo
7)Lecciones de Historia del Derecho Romano – Pablo Fuenteseca
8)Derecho Privado Romano - Pablo Fuenteseca
9)Derecho Romano (2 vols) – Arias Ramos e Arias Bonet
10)História de la Filosofía del Derecho y del Estado (3 vols) – A. Truyol y Serra
11)Filosofia do Direito e do Estado (2 vols) – L. Cabral de Moncada
12)Filosofia do Direito – P. Soares Martínez
13)A Natureza do Direito e Outros textos Jurídicos – Eric Voegelin
14)Filosofia do Direito – Miguel Reale
15)Lições Preliminares de Direito - Miguel Reale
16)Teoria Tridimensional do Direito - Miguel Reale
17)Fontes e Modelos do Direito - Miguel Reale
18)Sentido e Valor do Direito – A. Braz Teixeira
19)Filosofia do Direito – Michel Villey
20)Teoria Pura do Direito – Hans Kelsen
21)O Conceito de Direito – Herbert Hart
22)De Legibus (8 vols) - Pe. Francisco Suárez
23)Princípios de Filosofia do Direito – Georg. F. W. Hegel
24)Introdução ao Pensamento Jurídico – Karl Engisch
25)Teoria Geral do Direito – J. L. Bergel
26)A Teoria Geral do Direito e o Marxismo - E. Pachukanis
27)Constituição dos Atenienses – Aristóteles
28)Fundamentos do Direito – Léon Duguit
29)Institutas – Gaio
30)Sociologia do Direito – F. A. De Miranda Rosa

Só para constar: classificar De Legibus como “livro jurídico” é fazer uma classificação um tanto parcial, pois ele e uma síntese de reflexões e investigações filosóficas, teológicas, políticas e jurídicas. Mas isso não faz de listagem aqui uma extravagância.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Nova Líbia?


Rebeldes da Líbia vão pedir assento na ONU

O líder político dos rebeldes da Líbia disse nesta sexta-feira (26) que o grupo de transição, que aguarda para governar o país, pedirá um assento na Organização das Nações Unidas no próximo mês depois da aparente derrubada do regime de Muammar Kadhafi.

"Esperamos que no próximo mês a Líbia estará ocupando o assento que ela tem nas Nações Unidas", disse Mahmoud Jibril em Istambul, na Turquia.


Será mesmo o nascimento de uma nova Líbia, democrática e desvinculada do terrorismo, ou tudo isso é só ilusão? Sinceramente, ainda não sei. Estou observando, na esperança de compreender o que se passa.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Velha infância

(Crônica)

Ontem fui ao meu antigo prédio em busca de algumas possíveis correspondências, pois, apesar de de lá já termos saído há quase 9 anos, ainda há quem mande cartas para aquela antiga morada, como se por lá ainda vivêssemos.

Como sempre, fui acompanhando meu pai, pois dali íamos almoçar em algum lugar (ontem foi feriado municipal em Fortaleza, o dia de nossa padroeira, e não queríamos fazer almoço nem havia nada feito). Enquanto ele esperava que o porteiro, que já trabalhava por lá anos antes da nossa mudança, encontrasse alguma coisa, reparei na estrutura física do prédio.

É um edifício bastante antigo, smples, pobre até. Tem apenas 6 andares e só um elevador. Nada de salão de festas, piscina ou mesmo jardim. Não tem qualquer luxo, apesar de terem sido feitas melhorias depois de que nós, isto é, minha família, saímos dali.

No entanto, aquile edifício me fascinava. Eu estava curioso por tudo, prestava atenção em cada detalhe das paredes, das portas, das janelas, das colunas, da fachada e onde mais pudesse pôr o olhar. Atentei também para as feições já um tanto envelhecidas do porteiro.

E por que isso? Por pura nostalgia, desejo de rever, de revisitar aquela velha e tão querida infância, talvez a parte mais feliz da minha vida. Em cada detalhe do que observava buscava retirar da memória mas também, misteriosamente, do ambiente físico, as recordações de todas aquelas brincadeiras, de todas aquelas vivências, destes belos e ternos momentos que não voltam mais. Os brinquedos, os amigos, os amigos dos amigos, as pessoas que iam e voltavam, as manhãs de férias, as “molecagens” até o fim da tarde… sim, o prédio podia ser velho e bem pobrezinho, mas eu fui muito feliz ali. Isso é inegável e tem o seu valor.

Ao fim, o porteiro disse-nos que, doa moradores antigos, só uns 3 ainda por lá estão. Três sobreviventes de uma época boa, que me deixam muitas saudades.

Fui embora, mas levei comigo essa nostalgia que há muito se abateu sobre mim e tão cedo não pretende abandonar-me.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Esse deputado BBB...

Ao acessar o Yahoo, deparo-me com essa notícia:

Jean Wyllys não quer ser lembrado pelo BBB

Em declaração à revista “Rolling Stone”, na qual ele posou como militante, Jean afirmou que não usou o programa da Globo para vencer as eleições. “Quando saí candidato, eu não pus no meu material de campanha a referência ao BBB”, defendeu.

Pelo visto, ele acredita mesmo que tem de ser lembrado por sua atuação parlamentar. Mas por acaso ele acha que seria hoje deputado se não fosse sua participação no famigerado reality show da Rede Globo anos atrás? Do onde vem a sua fama, se não do BBB?

O fato é que foi a participação neste programa vulgar que atiça a vaidade dos que nele participam que fez com que Jean Wyllys alcançasse notoriedade. E é essa mesma vaidade que o faz proclamar já ter seu nome inscrito na História do Brasil, pois nenhum de seus feitos o justificam como um personagem de estatura similar à de José Bonifácio, Tancredo Neves, Carlos Lacerda ou Luis Carlos Prestes.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Leituras virtuais 18

Quem aí lê norueguês?
Olavo de Carvalho fala sobre o recente massacre na Noruega.

La faillite du modèle économique grec
Takis Michas explique a razão do descalabro económico, financeiro e social grego contemporâneo.


Você já conseguiu o seu pacote de emergência hoje?
Martin Vasques da Cunha comenta o livro O Poder - História Natural do seu Crescimento, de Bertrand de Jouvenel.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Cristão????

Sobre o propalado cristianismo de Anders Behring Breivik, leiam esse interessante texo de Joel Pinheiro da Fonseca. Entretanto, copio aqui o filé do escrito:

Bem, o Cristianismo é uma religião. Uma religião que gerou, junto com outras influências, uma cultura e uma civilização a que chamamos de ocidentais. Breivik é “cristão” apenas no sentido de querer preservar essa cultura historicamente ligada ao Cristianismo, mas que não se confunde com ele. Afinal, é possível ser cristão sem ser ocidental: coptas, maronitas e siro-malabares são todos cristãos, mas não são ocidentais. O Cristianismo dessas terras data de antes de existir uma civilização ocidental propriamente dita, à qual sempre correu paralelo. Assim, podemos até dizer que Reivik gosta e adere a um dos frutos do Cristianismo, embora rejeite a árvore (embora mesmo isso seja altamente questionável; pois a ética consequencialista que o criminoso usa para justificar seus atos é justamente uma das coisas que tem servido para destruir o Ocidente).
Estou em Fortaleza desde o dia 17 deste mês. E já vejo, tanto por lá como por cá, tanta coisa para tratar...

Férias? O que é isso?

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Dicas para ser um Intelectual de Boteco

Não é raro toparmos com o conhecido "intelectual de bar". Creio que qualquer um já conheceu essa figura. Pensando nela, elaborei essa lista que, embora um pouco desordenada, é bastante realista:
1-Seja um apreciador devoto de bares, cafés e restaurantes, ao ponto de vê-los não só como sítios para refeições e conversas leves, mas como também ideais para a formação intelectual;
2-Leia, mas não se preocupe muito com hierarquias de leituras. Dê preferência à jornais, jornalecos e orelhas de livros;
3-Pelo mesmo motivo, cultive um horror à ideia de método científico, de status questionis. Isso é chato, coisa de intelectual de verdade. Lembre-se: você planeja ser um intelectual de boteco;
4-Quando falar, dê preferência ao tom categórico, à generalização do que à proporcionalidade e à realidade;
5-Evite demonstrar ter dúvida. Um pensador de boteco não deve ter dúvidas;
6-Se for pego numa situação difícil, desconverse, dizendo que “isso não interessa”, “isso é embromação”, “isso é muito bonito na teoria, mas na prática é diferente”, etc;
7-“Não li e não gostei” é algo reprovável para os outros. Mas para você, não;
8-Lembre-se sempre de manter um tom de superioridade, seja em relação oas interlocutores, seja em relação ao tema tratado;
9-Simplifique sempre. Não importa a complexidade do assunto. Sempre tente simplificá-lo, reduzi-lo a um esquema simplista, de preferência de acordo com suas crenças, ideias e mesmo (por quê não?) preconceitos;
10- Jogue para a platéia, isto é, seus interlocutores;
11- Escamoteie, tão logo seu interlocutor esteja lhe refutando de modo fulminante;
12- Faça perguntas em desordem. Aquele que se lhe opuser e que cair nesse jogo não poderá lhe acompanhar e assim você terá “vencido” a disputa;
13- Não vacile em tomar a prova de uma tese como se fosse a própria tese;
14- Raciocine circularmente. A conclusão deve vir em primeiro lugar, e todas as premissas que desenvolveres à partir dela devem sempre terminar nela mesma;
15- Em casos extremos, rir do oponente é bom. Mas só em casos extremos;
16- Use o argumento da autoridade, mesmo que, e principalmente se, ele não ajude em nada a esclarecer o assunto debatido;
17- Se bem trabalhadas, analogias fora do contexto podem ser bastante úteis;
18- O argumento da ignorância é um dos recursos essenciais ao intelectual de botequim. Portanto, não tema em dizer “nunca ouvi falar nisso”, “isso é ficção” e coisas semelhantes, mas sempre deixando a impressão de que você é superior a tudo isso, tão superior que desconhece o que é dito justamente por se tratam de ninharias;
19- Procure passar a imagem de que você é “O Cara”. Melhor do que você não existe, ou dificilmente existiu, existe ou existirá. Pode também citar alguns melhores, poucos mas que sejam aprovados por você;
20- Ponha o barzinho e tudo o que lhe é relacionado em equidade com a ciência e a alta cultura.

(Publicado em Nova Mensagem, em 08 de Outubro de 2007)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Leituras virtuais 17

Quem tem medo de um filme de arte? E de “Transformers”?
Zeca Camargo comenta a velha rivalidade entre os fãs de filmes de arte e os de blockbusters.

Portugal socialista
João César das Neves fala da tradição estatista portuguesa e da decorrente atracção pelo socialismo no país.

A Suécia e a redução behaviourista do ser humano
Orlando Braga analiza a mais nova bizarrice de um dos países mais politicamente corretos do mundo.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Leituras virtuais 16

The Dumbing-Down of America

Patrick J. Buchanan aborda a decadência dos estudantes americanos e alerta para as consequências disto no futuro.

Personalismo: a doença infantil do oposicionismo
A oposição tem de mostrar as caras no debate público, afirma Magno Karl.

Os Quatro Nâo
Ana Maria Bueno postou um interessante texto, de autor desconhecido, sobre as razões do materialismo contemporâneo.

sábado, 25 de junho de 2011

Leituras Virtuais 15

Uma geração de predadores
Olavo de Carvalho fala dos responsáveis pelos descalabros da sociedade brasileira.

Em torno da causa gay
Ruy Fabiano mostra como a causa gay visa criar privilégios aos homossexuais.

Leitura ideológica, guerra total
Pedro Sette-Câmara expõe como o clima ideológico atual cria uma espécie de estado de guerra permanente.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Línguas

(Crônica)

Desde os meus 11 anos de idade, estudo línguas estrangeiras. Assim como os outros de minha geração, o primeiro idioma alienígena que estudei foi o inglês. Mal havia ingressado na 5ª série, meus pais puseram-me num curso de inglês. Passei a conhecer o idioma anglo-saxão por duas vias: o curso privado e o colégio, já que a matéria também era ensinada a partir daquela série. Atualmente, crianças da 1ª série já se iniciam em suas escolas na língua de Shakespeare.

Naquela época eu muito pouco me importava em aprender inglês. Era ainda um tanto criança e sentia-me subitamente atirado a uma nova realidade de responsabilidades e cobranças à qual não queria e nem me sentia preparado. Em conseqüência meu desempenho nos primeiros anos do curso não foi nada laudatório.

Com o tempo, as coisas mudaram. Conheci cada vez mais os meandros da língua e isso me mostrou sua utilidade, beleza e graça. Eu lia cada vez mais para buscar o conhecimento e fui percebendo que idiomas são como bilhetes de viagem que nos dão acesso aos mais variados povos, homens e culturas. Desenvolvi então um vivíssimo interesse em aprender línguas, a tal ponto que considerei a idéia de cursar a faculdade de Letras, idéia esta que não foi muito longe. Desta feita, meu desleixo para com a língua inglesa tornou-se passado.

Certo dia, numa casa de praia, tive repentinamente a idéia de estudar Francês. Comprei então aquela coleção de banca de revista da Editora Globo e estudei a língua de modo um tanto irregular, como o faço até hoje, mesmo tendo depois freqüentado um curso regular por 1 ano e meio. Aprendi algo do idioma, mas não desisti de dominá-lo.

Depois, em 2003, veio o espanhol. A princípio uma necessidade, logo o castelhano tornou-se uma paixão. Uma língua sensual, plástica, nobre, evocativa da cultura latina e, mais especificamente, da vida ibero-americana. A paixão cresceu ainda mais depois de ter vivido um ano na Espanha. A língua espanhola é paixão para toda a vida.

Não me concebo mais como um monoglota. Aprender idiomas significou para mim uma mobilidade cultural inacreditável. Passei a ter acesso a um mundo cada vez mais vasto, a estar habilitado a ler os mais diferentes livros, jornais e sites de vários países. Foi um aperfeiçoamento cultural enorme. E tudo isso sem falar nas facilidades que me proporcionaram tais línguas em minhas viagens ao exterior.

Como disse anteriormente, o monoglotismo não me é mais aceitável. Tenho até dificuldades de entender como pessoas de classe média ou alta no Brasil vivem limitadas à língua portuguesa. Nem fazem idéia das maravilhas que perdem. Eu, que sei português,inglês, espanhol e um pouco de francês, ainda não me dou por satisfeito: pretendo aprimorar-me nesses idiomas, bem como aprender bem ainda alemão, italiano, grego chinês, russo, sueco... umas 12 línguas estrangeiras até o final da vida. Muita coisa, bem como muita vontade de fazê-lo.

Não aceite o monoglotismo. Abra ao máximo possível as janelas para o mundo, consiga todos os passaportes que puder para melhor poder viajar pela obras do engenho humano, assim como para conhecer melhor seus irmãos, seus semelhantes ao redor do mundo. Eis aí uma necessidade civilizacional.

(Publicado em Nova Mensagem, em 09 de Fevereiro de 2007. Fiz uma melhoria nele agora)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Sobre Doutoramentos. Considerações a uma diatribe desqualificada

Sei que já é velho esse meu hábito (ou vício) de comentar coisas já passadas e que saíram um tanto de evidência, se é que tiveram mesmo alguma. Mas, enfim…

Há mais de um mês, Janer Cristaldo, comentando uma antiga decisão da Capes de ampliar o número de PhDs no Brasil, lançou-se contra os cursos de Doutorado, Mestrado e mesmo as Graduações da Humanidades. Contrariando meu habitual método de comentar textos inteiros trecho a trecho, deixo aqui uns comentários ao caso:

1)Dizer que um curso de Doutorado ou Mestrado é uma inutilidade é uma tolice que dispensa grandes comentários. Numa época em que se acentua a necessidade de qualificação e preparo para enfrentar os desafios do mercado de trabalho, dentre outros, é espantoso que alguém pretensamente esclarecido diga tais asneiras;

2)Um mestrado deve ser feito de preferência na sequência da conclusão da graduação sim. Já o doutorado exige mais experiência, maturidade. A sugestão de Janer, de que se conclua o Doutorado até trinta e poucos anos é um absurdo total, já que nesta idade muito dificilmente o doutorando terá o preparo adequado para tirar todos os frutos do curso (o último professor que vi comentar o assunto orientou os alunos para fazerem doutorado só anos depois do Mestrado. Eu, se um dia fizer um, só o farei 10 anos após o Mestrado). Essa sugestão, aliás, cria o problema que ele vê nesses cursos, que é o de manter o estudante por demasiados anos longe do mercado de trabalho. Sem perceber, ele criou a inviabilidade que acha ser natural desses cursos.

3)Não sei se isso é comum no Brasil, acho até que não, mas aqui em Portugal já vi muitas teses publicadas. No começo deste mês, aproveitando uma promoção da INCM, adquiri Povo, Eticidade e Razão. Contributos Para o Estudo da Filosofia Política de Hegel. É a tese de Doutoramento do Professor Edmundo Balsemão Pires, docente da FLUC, de quem já assisti algumas aulas de Filosofia do Direito, ministrada aos estudantes da Licenciatura em Filosofia. Evidentemente ainda não a li, mas pelo que já vi parece ser muito boa. Para ficar na área que me é mais familiar, já vi várias teses de Mestrado e Doutorado em Direito publicadas por aqui. Elas contam especialmente na coleção Studia Juridica, da Coimbra Editora e na Coleção Teses (o título já diz tudo), da Livraria Almedina. A prmeira coleção é voltada mais para o labor dos professores da FDUC. A segunda contêm mais trabalhos oriundos de Lisboa e do Porto, embora também haja algo da “prata da casa”. Estes livros têm de ser pagos? Sim. Afinal, são publicados por editoras privadas (exceto o caso da INCM), que têm custos de produção, como qualquer empresa em relação ao seu produto. Em todo caso, Cristaldo costuma ler teses, sejam brasileiras ou estrangeiras? É capaz de produzir algo a altura, por exemplo, dos professores de Cimbra e melhor do que o fazem os acadêmicos brasileiros?

4)Se o Brasil eliminasse hoje seus cursos de doutorado, perderíamos sim grande coisa. Apesar dos pesares, perderíamos mais profissionais qualificados. Isso numa época em que tanto precisamos deles;

5)Curiosa a postura esnobe e utilitarista quando compara os cursos de engenharia, medicina, odontologia com os cursos de Humanidades, notadamente os de Filosofia, Sociologia e Letras. Curiosa porque vem exatamente de um sujeito que sempre teve interesse (amadorístico que seja) por Humanidades e sempre se manteve longe dos cursos ditos por ele “úteis”. O mesmo Cristaldo que diz isso já lecionou Literatura e vez por outra dá pitacos na matéria, bem como o faz com a Filosofia e outras “inúteis” ciências humanas. Verdade que seus palpites não valem lá muita coisa, mas existem. Frise-se ainda que engana-se quem pensa que o ex-jornalista agora dará uma guinada em seus interesses e seus textos, só tratando de temas das ciências exatas e da saúde. Não: ele continuará falando sobe literatura, filosofia, historia e outras “inutilidades de vestibular fácil”;

6)Caso especial do número precedente: o curso mais “útil” que ele fez, o Direito, serviu-lhe de quê? Acaso ele se interessa realmente pelo Direito? Tornou-se um operador do Direito, fosse em que ramo fosse? Não foi ele quem jogou fora seus livros tão logo terminou o curso e, desde então se mantem afastado como pode da ciência jurídica? É assim que ele vem esnobar os estudiosos de Humanidades;

7)Entretanto, não vá pensar o leitor que Janer Cristaldo tem uma visão utilitarista do conhecimento. Não: ele tem uma visão utilitarista da universidade. Sua visão de cultura, por outro lado, é totalmente lúdica: ele acha que cultura tem que ser “gostosinha”, “algo que dê prazer”, conforme demonstrou nesse outro texto, publicado depois do começo dessa diatribe. Precisa comentar que, por essa via, nunca se formarão scholars? Que um curso de Humanas não é entretenimento sofisticado, mas campo de estudo e pesquisa?

8)Também é curioso, e mesmo irônico, que um sujeito que ataca mestrandos e doutorandos por serem subsidiados com bolsas oriundas de recursos públicos seja o mesmo que, em suas estadias estudantis em Paris e Madrid, décadas atrás, tenha recorrido a esses expedientes em proveito próprio. Será que ele confessa aí que explorou os contribuintes franceses e espanhóis, ou com ele as regras são diferentes?

9)Normalmente, quem possui Mestrado e Doutorado tem mais qualificaçãoes. Por isso, por lei, podem conseguir vencimentos maiores. Qual o problema aí, Sr. Janer Cristaldo?

Sem mais tolices para comentar por enquanto.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Fragmentos da Biblioteca Ideal - Direito I

Comecei há muito tempo a desenhar partes da minha biblioteca ideal, mas parei. Agora, retomo a empreitada.

Eu, como estudante de Direito, não posso deixar de elaborar minha lista de livros jurídicos para a dita biblioteca. É o que começo a fazer hoje. Depois termino, bem como continuarei a parte da Literatura e apresentarei os outros setores da minha biblioteca ideal.

Embora reconheça ser um erro identificar o Direito com a norma, começo por diplomas legislativos. Na generalidade dos casos, obviamente, busco a edição mais atualizada:

1- Vade Mecum de Direito (Brasil)
2- Constituições do Brasil (coleção editada pelo Senado Federal, traz todas as constituições brasileiras, além de um pequeno estudo introdutório)
3- The Constituition of the United States of America
4- Constituición de la República Argentina
5- Constituición de la República de Chile
6- Constituición de la República Socialista de Cuba
7- Constituición de los Estados Unidos Mexicanos
8- Constituición de la República Bolivariana de Venezuela
9- Constituição da República Portuguesa
10- Constituición Española
11- Constitution de la République Française
12- Grundgesetz für die Bundesrepublik Deutschland
13- Constitution Suisse
14- Costituzione Italiana
15- Österreichische Bundesverfassung
16- The Constitution of Japan
17- Constituição da República Popular da China
18- Constitution of India
19- Constituição de Angola
20- Constituição de Cabo Verde
21- Código Civil Português
22- Código Penal Português
23- Código Civil Español
24- Código Penal Español
25- Código Civil Alemão
26- Códe Civil Français
27- Tratado de Lisboa e legislação de Direito Comunitário

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Fernando Pessoa, 123 anos



Se vivo fosse, Fernando Pessoa faria 123 anos hoje. Por isso, posto cá 6 poemas deste gigante, que despertou-me o gosto pela poesia. Saudações ao grande poeta do Chiado!!!

III. OS TEMPOS


PRIMEIRO / NOITE

A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta, ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.

Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El-Rei negou.

Como a um cativo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando o vêem, vêem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.

Senhor, os dois irmãos do nosso Nome
— O Poder e o Renome —

Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.
Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.
Mas Deus não dá licença que partamos.


*

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

*

XX - O Tejo é mais Belo


O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

*

Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.

*

Alberto Caeiro

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

*

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Declaração de Brasília sobre células-tronco. Resgatando o que dissemos em 2008

Apesar das informações de carácter mais técnico, voltadas para os mais versados em Biologia e Medicina, não dá para deixar de recomendar que leiam todo esse texto. Aqui vai um trecho interessante:

3.Pretende-se contrapor a vida dos embriões congelados na data da promulgação da Lei de Biossegurança, nº 11.105, de 24 de março de 2005, à terapia e cura de muitos que padecem de doenças graves em nosso País. Não temos receio em afirmar com toda ênfase, que tal dilema é falso; como consta de texto divulgado por 57 cientistas norte-americanos, em 27 de outubro de 2004, bastante atual: “Baseado nas evidências disponíveis, ninguém pode predizer com certeza se as células-tronco embrionárias humanas, em alguma época, produzirão benefícios clínicos, e, muito menos, benefícios que não sejam obtidos por outros meios menos problemáticos do ponto de vista ético”.

4.Ao contrário do que tem sido veiculado e acriticamente aceito pela opinião pública, as células-tronco embrionárias não são a grande promessa para gerar terapias. Na verdade, são as células-tronco adultas que têm produzido expressivos resultados, que se apresentam ainda mais promissores depois do desenvolvimento da técnica de indução de pluripotencialidade em células adultas.

domingo, 22 de maio de 2011

"Amadores", de Pedro Sette-Câmara



Se eu estivesse em Belém do Pará na semana passada, eis uma peça de teatro que eu assistiria com todo gosto.

Será que será encenada em Fortaleza, quando eu por lá estiver?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Leituras Virtuais 14

Estrategistas do dia seguinte
Percival Puggina fala dos palpites que pululam na internet sobre a morte de Osama bin Laden.

Lição de diplomacia
A diplomacia americana durante a crise de Honduras. Por Olavo de Carvalho.

Cidadania, favela e milícia: as lições de Rio das Pedras
Marcelo Burgos analisa o problema das milícias com base no caso mais emblemático, o da favela Rio das Pedras.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sobre a Culpa, a Existência e a Consciência Moral, Ou O Retrovisor Necessário

Tá, sei que o texto é “notícia velha” (72 dias é um bocado de tempo para o jornalismo), mas o assunto é atemporal. Por isso, ainda merece ser discutido.

Em “Espelho retrovisor”, o psicanalista Luís Olímpio Ferraz Melo, pretendendo desvalorizar o sentimento de culpa, comete desatinos que não se podem deixar passar em branco. Vamos ao artigo:

No trânsito, o espelho retrovisor tem importância significante, pois pode auxiliar o motorista a evitar acidentes - somente isto.

Bom, evitar acidentes não é algo que se possa dizer ter uma importância “somente”. Por acaso, evitar um atropelabento ou uma colisão é uma banalidade?

No entanto, o sujeito utiliza na vida cotidiana o olhar no passado, como se estivesse permanentemente vigiando e com medo do que passou. A maioria das pessoas está presa ao passado e remoendo situações que não poderão mais ser modificadas e por conta disto sofrem com sentimentos de culpa e remorso pelo que fizeram ou deixaram de fazer. Chegam a glorificar o lado negativo do passado, mas não dão o mesmo destaque aos fatos positivos que aconteceram. É cruel o sentimento de culpa e há pessoas que acreditam carregar toda a culpa do mundo até por fatos que não deram causa.

De facto, viver com o pasado na mente paralisa, impede-nos de tomar as atitudes necessárias no presente, da mesma forma que a ansiedade pelo porvir. Devemos viver o hoje, baseado nas lições do passado e nos planos e possibilidades para o futuro. É uma atitude bem diferente da de glorificar o lado negativo do passado (que é uma forma de ressentimento), bem como de idealizá-lo como um paraíso perdido.

Mas, de que raios ele fala quando diz que “é cruel o sentimento de culpa e há pessoas que acreditam carregar toda a culpa do mundo até por fatos que não deram causa”? Quiçá teremos a resposta adiante.

Freud dizia que o sentimento de culpa no homem nasce ainda na fase masturbatória - a mulher queixa-se de certo arrependimento após o ato masturbatório. A mulher que, por qualquer motivo, praticou o aborto, sente-se profundamente culpada por este ato extremo, mas que deve ser esquecido e creditado à imaturidade e ao desespero.

Nem sempre a prática do aborto pode ser creditada à imaturidade e ao desespero da gestante, pois diversos factores podem influir na decisão. Não é algo que possa ser reduzido a uma resposta tão simplista.

Claro está que a mulher que se sente culpada por este acto abominável mostra, apesar do que cometeu, ter algo de bom e digno em seu coração e esta bondade pode fazê-la se redimir e tornar-se uma pessoa melhor. Só um monstro frio e insensível (ou alguém que a esta condição foi reduzido) poderia simplesmente esquecê-lo e buscar justificativas (sim, isso mesmo) como estas para apaziguar seu próprio ego. Uma experiência traumática como essa normalmente não é esquecida- e nem deveria sê-lo.

As religiões contribuíram negativamente para a glorificação da culpa na civilização, inclusive, os 7 pecados capitais da Igreja foram cada um vinculados a um demônio; e algumas seitas religiosas exortam a castração e o autoflagelo, como forma dos fieis se penitenciarem por faltas que não cometeram. Qual a importância do passado no presente? Nenhuma! Os arquivos mentais servem apenas para registrar experiências; e não para se ficar remoendo fatos, desejando, em vão, modificar o que passou.

Quando vejo alguém falar que “as religiões isso ou aquilo” já fico com um pé atrás, uma vez que entre elas encontram-se tantas diferenças e complexidades que é deveras difícil para alguém afirmar coisas como as que lemos acima. Não é tarefa para qualquer um.

Entretanto, falo da religião que melhor conheço: a doutrina (infalível) dos 7 pecados capitais, Sr. Luís Olímpio Ferraz Melo, não existe para “aliviar o ego” de ninguém, mas sim para orientar as pessoas quanto à gravidade desses pecados. Faz parte das obrigações de uma boa mãe (e a Santa Madre Igreja é uma boa mãe) alertar ao seus filhos o que é mal para eles e o quanto isso é mal. Que tipo de mãe seria aquela que permite que seus filhos se exponham a perigos mortais sob a justificativa de que “ah, é tão ‘cruel’ dizer um não! Faça o que melhor lhe apetecer, meu filho”? O ensinamento sobre o pecado e sobre os Novíssimos do Homem (Morte, Juízo, Céu e Inferno) serve para ensinar os homens a pesarem sua liberdade com a responsabilidade – e isso parece ser algo muito difícil para tantos hoje em dia! -, não para, como está em seu artigo, “glorificar a culpa”.

Qual a importância do passado no presente? Imensa!!! Nossos actos têm consequências que se projectam para o futuro e, às vezes, para o resto de nossas vidas, não se lembra disso?* Como viver o hoje se me esqueci do que foi ontem? Se a vida humana é um conjunto de compartimentos isolados no tempo ( e falta aqui saber que unidade de tempo é essa que recorta as nossas vidas, apartando-as de vez umas das outras ao ponto de que se tornem apenas contactáveis como uma curiosidade para entreter-nos nos tempos de ócio), para quê elaborar projectos um mesmo dizer “vamos em frente!”? Tudo isso vai passar de forma a que não terá significado no momento seguinte. Seguindo o conselho do articulista, nada poderemos aprender com nossas experiências, pois elas fazem parte desse “inútil” passado.

Mas o melhor (ou pior) ainda está por vir:

Ninguém deve se sentir culpado, pois é da natureza humana o erro e, essa ideia equivocada de pecado e punição, jamais terá comprovação, pois trata-se apenas de alegorias. A Bíblia diz que o primeiro assassinato ocorreu quando Caim matou o seu irmão, Abel, por ciúmes e alguns exegetas míopes enxergaram nisto uma expiação para toda a humanidade; assim como o pecado original descrito na Bíblia e pelo qual todos ainda hoje teriam que responder. Ora, se Adão e Eva foram expulsos por Deus do Paraíso pelos supostos pecados, nós nada temos a ver com isto! Dane-se a culpa!

1)Fugir da culpa “porque dói” é atitude digna de fracotes e covardes que não podem arcar com as consequências de seus próprios actos. Isso quando não se tratar de psicopatias, já que o retrato da conduta ideal traçado pelo articulista nas primeiras linhas desse parágrafo lembra-me o de Mersault, o personagem psicopata de Albert Camus em L’Étanger, aquele que mata um homem sem saber bem o por quê e que reage com a maior indiferença ao seu próprio julgamento, bem como a diversos factos de sua vida. Ele não sente nenhuma culpa por seus actos porque é totalmente incapaz de o fazer. Já imaginaram isso: uma sociedade de irresponsáveis ou de psicopatas?

2)Pior fica agora, quando o colunista, pretendendo ir a fundo em sua tese, demonstra uma ignorância gigantesca em teologia: a doutrina do pecado original, um dos dogmas da Igreja, ensina que, após suacriação, o Homem, não aceitando seu status de criatura e , seduzido pelo poder do Demônio, com desejos de se igualar a Deus, rebelou-se contra seu Criador. Isso acarretou a perda do estado de Graça com o qual havia sido criado, além de outras consequências graves (medo de Deus, dificuldade de conhecer a Deus, ruptura da harmonia de toda a Criação, etc.). O Homem, criado para ser o jardineiro de Deus no Édem, a obra-prima das criaturas terrestres, perdeu sua ciência infusa e foi condenado a ser prisioneiro do pecado, do qual é libertado por Jesus Cristo. O Padre Leo Trese explica isso de uma forma bastante esclarecedora em seu livro A Fé Explicada: “Se, antes de eu nascer, um homem rico tivesse oferecido a meu pai um milhão de dólares em troca de um pequeno trabalho, e meu pai tivesse recusado a oferta, na verdade eu não poderia culpar o milionário pela minha pobreza. A culpa seria de meu pai, e não do milionário”. O pecado original é essa pobreza que os homens herdaram de Adão. Entendeu, Sr. Luís Olímpio Ferraz Melo? Eis o que temos a ver como o que os nossos primeiros pais fizeram.

____________________________________
* Só para dar um exemplo bem claro: um dia, no passado, o Sr. Luís Olímpio Ferraz Melo decidiu ser psicanalista. Os efeitos dessa decisão repercutem até hoje. Será que ele pode se furtar a isso dizendo “é só o passado, o que importa é o Agora. Em frente!”?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Leituras Virtuais 13

A transparência cristã de João Paulo II
D. Javier Echevarría fala da eficácia evangelizadora de João Paulo II.

Is Osama bin Laden in Hell?
Jimmy Akin mostra porque, à luz da doutrina cristã, não podemos afirmar a condenação eterna do líder da AL-Qaeda.

The Three Temptations of Facebook
Jennifer Fulwiler comenta os três principais males que as redes sociais podem fazer à alma de alguém.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Aos meus queridos espanhóis

Sacrifício de Amor

Sacrifícios, Dificuldades, privações,
Um continuo pelear-se em mortificações.
Tudo isso por Amor.

Os homens do século, incapazes de crer
Que isso seja verdadeiramente viver:
Tudo isso por Amor.

Pensam que no gozar da terra está a vida,
Ignoram que o mundo é só o ponto de partida.
Não conhecem o Amor.

No Reino a realização, verdadeira meta
C’ardor, para Cristo vamos como uma seta,
Um grande ardor de Amor!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Osama Bin Laden morto. Morto?



Por ora, não dá para opinar sobre o caso. Vou esperar por mais informações.

domingo, 1 de maio de 2011

Servo de Deus, João Paulo II, Beato!!!




MAGNÍFICO!!! É o que posso dizer!

Dia memorável!

Servo de Deus,João Paulo,rogai por nós!!!!!!

sábado, 30 de abril de 2011

Indicações de Livros: True Outspeak

Encontrei hoje essa lista deveras interessante: um aluno do Olavo de Carvalho compilou todos os livros indicados pelo filósofo em seu programa True Outspeak, de 11de Dezembro de 2006 até 06 de Abril de 2011. É uma imensa lista em quase 5 anos de programa.

Não sou grande ouvinte do True Outspeak, mas digo que a esta lista deve ser dada muita atenção. Li alguns dos títulos, mas posso asseverar que vale a pena ser lida. Portanto, às leituras!

domingo, 24 de abril de 2011



Domingo de Páscoa! Cristo Ressuscitou! Verdadeiramente ressuscitou!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Emir Sader e o "longo processo de democratização" do Brasil

No dia 1 de Abril, Emir Sader publicou em seu twitter:

O golpe de 64 interrompeu o longo processo de democratização econômica,social e politica,iniciado em 30,mudando o rumo da história do país.

Ele só podia mesmo estar fazendo brincadeira com a data. Em 1930, Getúlio Vargas subiu ao poder por meio de uma revolução e ficou anos a governar sem amparo constitucional, até que a Revolução Constitucionalista de 1932 o fizesse convocar uma constituinte, que elaborou a Carta Magna de 1934. Três anos depois, com as eleições já marcadas, Vargas deu um golpe de Estado e instaurou a ditadura do Estado Novo, assentada numa constituição de caráter nitidamente centralizadora e autoritária, inspirada na sua congênere polonesa ( até onde sei, de caráter fascista). Seu regime perdurou até 1945, que trouxe a democracia de volta para o país, para acabar em 31 de Março de 1964.

Como um cientista social influente nos meios universitários pode cometer um erro histórico desse tamanho, que seria inaceitável num estudante de 6ª série ao final do ano? Será possível que ele ignora tanto assim a história brasileira do século XX? Ou existe aí algum método?

terça-feira, 5 de abril de 2011

Leituras Virtuais 12

A crença na "cultura da periferia" é coisa de gente com miolo mole
Reinaldo Azevedo trata da ideia de que silvícolas e favelados representem uma outracultura que têm o que nos ensinar. (Artigo de 5 de Dezembro de 2007).

Como tornar-se um gostosão intelectual
Olavo de Carvalho comenta as filosofias prontas e seus adeptos.

Ausência da direita e o vácuo político
Bruno Garschagen analisa uma recente reportagem da revista Veja.

domingo, 3 de abril de 2011

"Aurora", de F. W. Murnau


Acabei de assistir Aurora (1927), do cineasta alemão F. W. Murnau. Já o havia assistido antes, no ano passado, por indicação de Olavo de Carvalho, que o cita como seu filme favorito. É, de facto, um ótimo filme, e um dos mais aclamados da história do cinema.

Pensei em escrever uma resenha sobre Aurora mas, com o magistral ensaio do filósofo sobre a película, por que fazê-la? Melhor deixar cá o link e recomendar sua leitura. Além do filme, é claro!

terça-feira, 29 de março de 2011

São Josemaría Escrivá e a Penitência


Não dá para não copiar na íntegra esse texto de São Josemaría Escrivá sobre a penitência. Muito oportuno nessa época quaresmal!

"Procuras tomar já a tua resolução de propósitos sinceros? Pede ao Senhor que te ajude a sacrificares-te pelo seu amor; a pôr em tudo, com naturalidade, o aroma purificador da mortificação; a gastares-te ao seu serviço, sem espectáculo, silenciosamente, como se consome a lamparina que tremeluz junto do Tabernáculo. E se agora não te ocorre como responder concretamente aos apelos divinos que se fazem ouvir no teu coração, ouve-me bem.

Penitência é o cumprimento exacto do horário que te fixaste, mesmo que o corpo resista ou a mente pretenda evadir-se com sonhos quiméricos. Penitência é levantares-te pontualmente. E também, não deixar para mais tarde, sem motivo justificado, essa tarefa que te é mais difícil ou custosa.

A penitência está em saber compaginar as tuas obrigações relativas a Deus, aos outros e a ti próprio, exigindo-te, de modo que consigas encontrar o tempo necessário para cada coisa. És penitente quando te submetes amorosamente ao teu plano de oração, apesar de estares cansado, sem vontade ou frio.

Penitência é tratar sempre os outros com a maior caridade, começando pelos teus. É atender com a maior delicadeza os que sofrem, os doentes e os que padecem. É responder com paciência aos maçadores e inoportunos. É interromper ou modificar os nossos programas, quando as circunstâncias - sobretudo os interesses bons e justos dos outros - assim o requerem.

A penitência consiste em suportar com bom humor as mil pequenas contrariedades do dia; em não abandonar o trabalho, mesmo que no momento te tenha passado o entusiasmo com que o começaste; em comer com agradecimento o que nos servem, sem caprichos importunos.

Penitência, para os pais e, em geral, para os que têm uma missão de dirigir ou de educar é corrigir quando é necessário fazê-lo, de acordo com a natureza do erro e com as condições de quem necessita dessa ajuda, superando subjectivismos néscios e sentimentais.

O espírito de penitência leva a não nos apegarmos desordenadamente a esse esboço monumental dos projectos futuros, no qual já previmos quais serão os nossos traços e pinceladas mestras. Que alegria damos a Deus quando sabemos renunciar aos nossos gatafunhos e pinceladas, e permitimos que seja Ele a acrescentar os traços e cores que mais lhe agradam!" (São Josemaría Escrivá de Balaguer. Amigos de Deus, ponto 138).

segunda-feira, 28 de março de 2011

Garrigou-Lagrange

Vi essa hoje, via Facebook. Sem comentários!

A Igreja é intolerante nos princípios porque crê; mas é tolerante na prática porque ama. Os inimigos da Igreja são tolerantes nos princípios porque não creem; mas são intolerantes na prática porque não amam. – R. M. Garrigou-Lagrange

Preciso! Brilhante!
Belgium growth quickens pace in 4Q

Belgium's economy grew at a faster than expected 0.5 percent in the final quarter of last year, and 2.1 percent overall in 2010, revised central bank figures showed Wednesday.

E isso sem ter um governo central fixo, definido...

Um argumento liberal para a diminuição da acção estatal?

domingo, 27 de março de 2011

Palestra sobre a Escola Austríaca



Bastante interessante. Fica a dica para quem estiver em São Paulo na data.

sábado, 19 de março de 2011

Dia de São José



Hoje, dia 19 de Março de 2011, é Dia de São José. Ele é Padroeiro da Igreja, das crianças não-nascidas, dos trabalhadores, da boa morte, dos pais, da Prelazia do Opus Dei e do meu estado, o Ceará, além de muitos outros. Por isso, hoje vou postar essa ladainha dedicada a este grande santo, encontrada num fórum católico na internet:

Ladainha de São José


Senhor, tende piedade de nós. (2x)

Jesus Cristo, tende piedade de nós. (Repete-se)

Senhor, tende piedade de nós. (2x)

Jesus Cristo, ouvi-nos. (Repete-se)

Jesus Cristo atendei-nos. (Repete-se)



Pai do Céu que sois Deus, tende piedade de nós.

Filho, Redentor do mundo, que sois Deus, tende piedade de nós.

Espírito Santo que sois Deus, tende piedade de nós.

Santíssima Trindade que sois um só Deus, tende piedade de nós.



Santa Maria, rogai por nós.

São José, rogai por nós.

Honra da família de David/ Glória dos Patriarcas

Esposo da Mãe de Deus/ Castíssimo guarda da Virgem

Amparo do Filho de Deus/Vigilante defensor de Cristo

Chefe da Sagrada Família/ José justíssimo, rogai por nós.

José castíssimo / José prudentíssimo/ José fortíssimo

José fidelíssimo / Espelho de paciência/ Amigo da pobreza

Modelo dos trabalhadores/Glória dos lares.

Guardião das virgens / Sustentáculo das famílias



Consolo dos infelizes / Esperança dos enfermos

Advogado dos moribundos/ Terror dos demônios

Protetor da Santa Igreja



Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,

R: Perdoai-nos Senhor!

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo,



R: Ouvi-nos Senhor!

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo,

R: Tende piedade de nós Senhor!

V/ Ele o constituiu Senhor da sua casa.

R/ E o fez príncipe de todos os seus bens.



Oremos:

Ó Deus, cuja inegável providência se dignou escolher o bem-aventurado S. José para esposo de Vossa Mãe Santíssima, fazei que venerando-o como protetor na terra, mereçamos tê-lo como nosso intercessor no Céu. Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo. Amém.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Fragmentos da Biblioteca Ideal. Literatura (I)

Certa vez, Olavo de Carvalho disse que é muito importante, para quem quer seguir a senda da vida intelectual, montar uma biblioteca imaginária, na qual estarão todos os livros que se pretende ler até o fim da vida. Claro que ela não é um plano que feito uma vez, permanece imodificável para todo o sempre, pois o próprio estudo selecionará as obras devidas das indevidas, bem como mesmo os assuntos a serem estudados. Claro que essa biblioteca tem também ordem e hierarquia. Ela deve ser montada com base nos livros mais importantes sobre o assunto e observar o status questionae dos problemas. Por isso, embora seja para nossa orientação, ela é bastante mutante, embora isso não deva ser encarado como um problema.

Assim, resolvi montar o esboço de uma lista de obras literárias desta minha biblioteca imaginária, que mostro agora aqui. Focarei nas literaturas brasileira e portuguesa, mas mostrarei outras também. Depois postarei outras obras, bem como livros de Direito, Filosofia, Teologia, História, etc.

1) Machado de Assis: Opera Omnia
2) Luís de Camões: Os Lusíadas, Poesia Lírica
3) Fernando Pessoa: Opera Omnia
4) Gil Vicente: Auto da Índia, Auto da Alma, Auto da Barca do Inferno, Farsa de Inês Pereira
5) Garcia Resende: Cancioneiro
6) Bernardim Ribeiro: Menina e Moça
7) António Ferreira: A Castro
8) Bocage: Sonetos
9) Almeida Garret: Cancioneiro, Frei Luís de Sousa, Viagens à Minha Terra
10) Alexandre Herculano: Eurico, o Presbítero; O Bobo
11) Gonçalves Dias: Poesia Lírica e Indianista
12) José de Alencar: Iracema, O Guarani, Ubirajara, Senhora, A Pata da Gazela
13) António Nobre: Só, Despedidas
14) Eugénio de Castro: Antologia
15) Camilo Pessanha: Clepsidra
16) Cesário Verde: o Livro de Cesário Verde
17) Cruz e Sousa: Opera Omnia
18) Alphonsus de Guimaraens: Opera Omnia
19) Miguel de Cervantes: Don Quijote; Novelas Exemplares
20) Johann W. von Goethe: Fausto; Werther; Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister

quinta-feira, 17 de março de 2011

Geração À Rasca

Por estes dias, fala-se muito em Portugal sobre a “geração à rasca”: o movimento que engloba cidadãos descontentes com o estado calamitso do quadro econômico, político e social do país. Composto por todo tipo de gente, mas principalmente por estudantes, o movimento organizou, na semana passada, manifestações em algumas cidades do país (Coimbra, inclusive), protestando contra a crise, o desemprego, o corte nos auxílios estatais, a precariedade laboral, o estado da educação, entre outras causas.

De facto, Portugal está numa situação desesperadora. A decadência está a olhos vistos, é difícil arrumar emprego, cada vez mais portugueses sofrem de depressão e ansiedade, necessitando de medicamentos contra essas moléstias, a indústria não mostra vigor e o Estado está falido. “Crise, crise, crise” é o que se ouve o tempo inteiro, e já não são poucos os portugueses que estão desesperançados com o futuro do país. Li hoje, por alto, que o país precisa de algo como 80 000 000 000 de euros para o financiamento em 2011, englobando aí o Estado, as autarquias, as empresas e outros agentes*. É realmente calamitoso o estado de Portugal.

Agora, também é facto que o actual Governo do PS (José Sócrates à frente) foi reeleito à 27 de Setembro de 2009 por estes mesmos portugueses que agora tanto protestam e pedem a sua demissão, bem como à de toda a classe política. Não é a primeira vez que fazem isso: já em Outubro do ano passado houve uma greve geral contra o governo e suas medidas anti-crise.

Aí é que está o mistério: não sabiam os portugueses que Primeiro-Ministro tinham? Já não conheciam seu estilo, seu programa, seus objectivos? O país já não estava muito mal antes das Legislativas de 2009? José Sócrates já não tinha sido o pivô de casos bastante estranhos então (Face Oculta, U. Independente, Outlet Alcochete)? Por que o reelegeram? Será que as outras opções eram tão ruins que, com tudo o que estava, preferiram ficar mais ou menos na mesma**? Agora que reelegem o homem e sua turma reclamam indignados? O que e que é isso?

Tampouco adianta pedir a demissão de toda a classe política. É uma atitude burra, imatura e desesperada. Políticos, sempre os teremos entre nós, às vezes bons, às vezes ruins. Já tive meu flerte com essa atitude há uns 5 anos atrás, mas depois vi a bobagem que era.

Por essas e por outras, tenho reservas em relação à tal “geração à rasca”: são mais destrutivos e desesperados do que propositivos e inteligentes. Portugal não precisa de ácido, de desesperança e de anarqia, mas sim de propostas alternativas inteligentes, sensatas, além de pessoas e meios para as concretizar.

_____________________________

(*) Cito com pouca exatidão porque o faço de memória. Vou procurar depois as informações mais precisas.
(**) “Mais ou menos” porque, pelo menos, retiraram do PS a maioria absoluta de que ele desfrutava há tempos e deram ao CDS/PP, o partido conservador mais expressivo de Portugal, o terceiro lugar em númeo de votos, o que já é grande melhora.

Kadhafi anuncia ataque a Benghazi

O líder líbio, Muamar Kadhafi, anunciou que as forças governamentais atacarão na noite desta quinta-feira (17) a cidade de Benghazi, reduto da rebelião localizado a mil quilômetros da capital, Trípoli, em uma mensagem transmitida pela emissora líbia.

Benghazi, segunda maior cidade do país, é a sede do Conselho Nacional de Transição, órgão de governo criado pelos insurgentes.


É provável que Kadhafi consiga retomar a cidade e esmagar a rebelião. Se tal acontecer, a ONU e a tão propalada “comunidade internacional” terão sim culpa pela perpetuação de uma das mais antigas ditaduras africanas. Poderiam, sim, ter feito muito mais. Se tivessem dedicado ao caso a mesma energia com que fizeram no caso de Mubarak, muito provavelmente o tirano beduíno já estaria apeado do poder. Mas aí entram o petróleo, interesses políticos, etc…

Essa ideia não me sai da cabeça. Só espero que o desfeço da história não seja este, e o déspota líbio seja deposto o quanto antes.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Leituras Virtuais 11

Sociedade justa

Olavo de Carvalho comenta um dos maiores topoi da contemporaneidade.


Gramsci, o parasita do amarelão ideológico

Reinaldo Azevedo aborda o gramiscismo.


Piqueteros intelectuales

Mario Vargas Llosa fala da reação do grupo Carta Aberta á sua presença na inauguração da Feira do Livro em Buenos Aires.

terça-feira, 15 de março de 2011

No dia 8 de Março corrente, Pedro Sette-Câmara publicou em seu twitter:

Quem compra drogas financia o tráfico. Mas quem anda de carro e ônibus também financia ditaduras árabes. Quer pureza, vai pro mosteiro.

Pode ser. Entretanto, cumpre-se notar que quem usa veículos automotores não têm nem intenção nem responsabilidade pelas ditaduras árabes. Ninguém escolhe a procedência do petróleo usado para fazer o combustível que usa. Além disso, drogas são completamente dispensáveis e seus usuários sabem bem o crime que financiam. Os utentes de combustível, por outro lado...

Japão



Oro muito por ti nesse momento tão trágico. Sei que és uma boa terra, apesar dos teus males, e que o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo foi derramado também pela remissão dos pecados de tua gente. Portanto, oro e peço por ti.

Oremos todos pelo Japão!

III International Aristotle Seminar at Coimbra: Causation in Greek and Medieval Philosophy



É nesta semana, na Quinta e na Sexta-Feira, na FLUC.

Se der certo, porquê não ir?
Desde a Quarta-feira que estou de volta à Coimbra. A viagem foi mais cansativa do que o habitual, pois, desta vez, ao invés de um vôo direto Fortaleza-Lisboa, fiz conexão em Madrid para só depois chegar à capital portuguesa. Mas foi tudo muito tranquilo.

Fiquei os primeiros dias numa pensão, enquanto buscava um novo quarto para morar. Esta época é bem melhor do que setembro, quando o número de casas disponíveis parece ser maior do que o de estudantes em busca de alojamento. Depois de alguma procura, aluguei um quarto na Alta, Rua do Loureiro, a mesma na qual um primo meu morou anos atrás, quando também estudava na FDUC. A casa é velha, mas o quarto é confortável, perto da Faculdade, e o casal que cá mora é bastante gentil, especialmente a senhora.

Estou mais tranquilo agora do que estava em setembro. Agora, com essa importante providência tomada, o negócio é arregaçar as magas e estudar muito. Ao trabalho!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Desperdício e Insensatez

Pode parecer banal, mas isso chamou-me a atenção.

Na manhã de sábado, fui comprar pão, presunto e queijo para o café-da-manhã. Nada de mais. Como de hábito, insisti para que a funcionária do supermercado cortasse o pressunto para que ele ficasse bem fino (o melhor que há), pelo que ela me olhou com certo enfado. Ao ver que tinha posto mais presunto no pratinho do que eu havia pedido, retirou o excesso e, pura e simplesmente, o jogou na lata de lixo. Isso mesmo: na lata de lixo.

Fiquei boquiaberto com isso e acho que ela percebeu meu olhar surpreso, mas nada disse. Calado, peguei minhas compras e fui ao caixa.

Como alguém faz uma coisa dessas assim, sem mais nem menos? Será que ela não pensou, por um momento sequer, que estava ali mesmo destruindo, sem a menor necessidade, uma mercadoria que poderia ser vendida para outro? Será que não se lembrou de tanta gente que morre de fome ou se alimenta mal em nossa cidade, enquando ela desperdiçava comida? Que ética é essa?

Aquilo me pareceu uma enorme insensatez, uma brutal falta de sensibilidade para com os que passam fome, um dano totalmente despropositado a uma propriedade privada. Não entendo mesmo isso.

Enfim, queria mesmo fazer este desabafo, não fazer um sermão ou um tratado moral. Se isso servir para sinalizar a alguém como tal atitude é errada, já fez muito e me dou por satisfeito.

Links Interessantes 1

Dêem uma olhada nuns sites interessantes que encontrei por aí:

Nipocultura

China Today

Minha China

Persecution

American Catholic

The Society of Christian
Philosophers


Institut Michel Villey

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Assim caminha a humanidade?



Vai me dizer que isso aí não tem um pé firme na realidade? Que é tudo um puro exagero?

E o pior é que, ao que parece, a tendência não está restrita a esses países. Há algo de podre no mundo contemporâneo.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O Império Romano é a Europa, e outras doidices

Eu devo mesmo ter algo de masoquista, para ainda ler bobagens como essas, escritas por Lustosa da Costa hoje, no DN:

Desde os tempos de Cleópatra, Roma e, por conseguinte, a Europa, exploram os egípcios. A tirania, derrubada pelo povo, foi sustentada pelos Estados Unidos e por Israel para se manter obediente a ambos. Agora, os americanos só admitem uma democracia, que se comprometa a defender os interesses ianques e sionistas. Senão, o país passará a ser considerado terrorista como o Iraque e o Irã, mesmo que, no seu caso, não tenha petróleo.

1)Desde quando na Antiguidade havia o conceito de “Europa”? Havia sim o de Império Romano, que dominou boa parte da Europa. Os povos então não eram “europeus”, mas sim latinos, germânicos, celtas, iberos, lusitanos, etc. Confundir a dominação romana com imperialismo europeu é coisa de ignorante em História;

2)Se a ditadura de Mubarak foi de facto “derrubada pelo povo” é algo que ainda cabe verificar pois, a rigor, não existem “revoluções populares”, segundo o ex-agente da KGB, Yuri Bezmenov. Toda revolução é provocada por lideranças específicas que usam, muitas vezes, o povo como fachada;

3)Egito obediente? Ser aliado dos EUA e de Israel é ser obediente? Curioso raciocínio. Além disso, falta ao articulista explicar por que raios países devem receber com a maior indiferença a notícia de que um país aliado pode se tornar seu inimigo, ainda mais um inimigo mortal, devido à mudanças políticas.

Da mesma maneira que Venezuela não é considerado país democrático porque não se porta de maneira subserviente diante de Washington. É o imperialismo americano que tenta continuar a mandar no mundo e recolher as riquezas da maioria em seu benefício.

Ué, como pode ser considerado democrático um país cujo governante já modificou a Constituição várias vezes em proveito próprio, persegue opositores, atenta gravemente contra a liberdade de imprensa e já declarou que seu objetivo é criar um regime socialista nos moldes de Cuba e da URSS? Por que Lustosa da Costa não prova o contrário?

Escravos, sim

O governo fascista e corrupto da Itália quer impedir que tunísios, sempre explorados pelos romanos, ingressem no país. Como escravos, podiam entrar. Como candidatos a trabalhadores, com direitos garantidos, não. É visão europeia e imperialista dos europeus.


Descontando o facto de que o governo brasileiro é, tradicionalmente mais corrupto do que o italiano, observemos:

1)Quer dizer que os italianos de hoje devem ser cobrados pelos actos dos romanos da Antiguidade? O articulista, que no Ceará parece ter fama de muito culto, não sabe a diferença entre a Itália e a Roma Antiga, bem como a existente entre Cartago e seus arredores e a moderna Tunísia?

2)Quem disse que os tunisianos querem entrar “como candidatos a trabalhadores, com direitos garantidos”? Querem entrar como refugiados por razões humanitárias. A Itália e a EU têm toda razão em ficar apreensivos com a entrada massiva desses estrangeiros, que podem muito bem se transformar em imigrantes ilegais, com todos os problemas implicantes já conhecidos. Exceto por Lustosa da Costa, ao que parece;

3)Cadê o tal “fascismo” no actual gverno italiano? O articulista aí só faz seguir a radição – inventada pela esquerda – de rotular de “fascista” aquilo de que não goste. É a corrupçao da linguagem, o primeiro mal provocado por ideologias;

4)Caso não tenha reparado, a visão dos europeus é, necessariamente, europeia. Tautologia aí.