quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A flechada democrata e o escudo schopenhaueriano

Está interessante a transcrição do debate entre os três principais candidatos à Vice-Presidência promovido pelo Estadão e transcrito no blog do Reinaldo Azevedo. Chamo a atenção para o seguinte:

Índio: Existe uma enorme diferença entre o mensalão do PT e o do DEM. No Democratas, o (José Roberto)Arruda foi expulso, quem assumiu no lugar dele também e o seguinte também. Foram três expulsos. Diferentemente do PT, onde o José Dirceu está operando para eleger a Dilma. E ainda tem discussões sobre quem ocupa qual ministério, Dirceu de um lado, Palocci do outro. Não é esse tipo de governo que o Brasil precisa. O mensalão se transformou em distribuição de cargos. Não podem mais distribuir dinheiro, mas passaram a distribuir poder.

Temer: É preciso invocar a história brasileira. O Brasil Colônia tinha a história do santo do pau oco, porque se escondia o ouro dentro do santo para que não se entregasse o que era devido a Portugal, o que era irregular. Com isso, quero dizer que a corrupção era uma coisa endêmica no País. Avançamos muito. Nos casos de mensalão, houve uma apuração, e essa gente está sendo processada. É fruto da evolução dos costumes nacionais. Na Câmara dos Deputados, estabelecemos a transparência absoluta. Não há despesa de deputado que não vá para a internet. Quem encontrar falha imediatamente denuncia.


Ora, Índio da Costa refere-se a um caso concreto de corrupção (talvez o mais amplo da História brasileira) e da postura governista ante a situação e o vice de Dilma acha que a questão pode ser resolvida mediante a invocação geral da longa tradição da corrupção política no país. Ora, não está aqui em questão se o Brasil tem uma corrupção endêmica desde a época colonial, mas sim o mensalão e as consequências práticas em relação aos envolvidos. Michel Temer, vê-se, faz aí o uso do estratagema erístico nº 19 de Schopenhauer, isto é, a fuga do específico para o geral, para tentar limpar a culpa do governo do qual faz parte.

Fiquem de olho.

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